Estudo da Unicamp diz que 85% dos docentes
não conseguem usar o computador nas aulas
Professores
da rede pública não se sentem seguros para aplicar a tecnologia na sala de
aula. Uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) com 253
docentes de escolas estaduais paulistas mostra que 85% deles não sabem usar o
computador e seus recursos como ferramenta pedagógica. E perdem, assim,
uma boa chance de capturar a atenção de seus alunos, naturalmente interessados
pelas novidades tecnológicas.
Segundo
os docentes, a dificuldade é atribuída, em geral, à deficiência na formação
profissional e à falta de tempo, além do pouco incentivo para
se aprimorarem e a infraestrutura deficiente no local de trabalho. O
secretário- adjunto da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, João
Cardoso Palma Filho, contesta as queixas dos professores. “Também há muita
resistência dos docentes com a tecnologia”, afirma Palma.
Os
professores entrevistados na pesquisa da Unicamp não sabem, por exemplo, usar
um software simples como o Power Point, e relatam problemas com
navegadores de internet. “Fazendo cursos já é difícil acompanhar a tecnologia.
Imagine sem eles”, diz a professora da rede municipal Ana Maria Perressim. “O
que sei e uso em sala de aula (de computador) aprendi por conta própria.”
O
estudo foi realizado em 27 escolas de Campinas, a 100 quilômetros da capital,
entre 2009 e 2010, mas a pesquisadora do Núcleo de Estudos Avançados
em Psicologia Cognitiva e Comportamental (Neapsi) da Unicamp, Cacilda
Encarnação Augusto Alvarenga, afirma que os resultados da amostra “são
semelhantes no resto do País.”
Para
Cacilda, “a falta de afinidade dos professores públicos com a tecnologia é
comum”. Ela, que também é pedagoga, afirma que para 73% dos entrevistados
a infraestrutura de informática disponível nas escolas é insuficiente. “E isso
acaba desmotivando o professor”, avalia.
Os
problemas são confirmados por Wilner Santos, 31 anos, docente de física e
matemática da rede estadual que tenta, por conta própria, acompanhar
o desenvolvimento tecnológico. “Falta investimento na sala de aula”,
afirma. Ele pretende comprar um projetor e levar seu notebook pessoal para
ajudar na aula. “A tecnologia motiva os alunos, mas não posso esperar pelos
recursos do Estado.”
Outro
motivo que, segundo os docentes, afasta a tecnologia das salas de aula é a
falta de cursos sobre o uso pedagógico do computador, assim como o pouco
tempo que eles têm para o aprimoramento. No caso de Santos, para dominar o uso
da tecnologia como ferramenta pedagógica, o jeito foi cursar uma pós-graduação
em novas tecnologias para o ensino da matemática, curso a distância da
Universidade Federal Fluminense (UFF).
Formação
descontinuada. “Mesmo confortáveis com o uso doméstico da tecnologia,
alguns sentem dificuldade em transportá-la para a sala de aula”,
reconhece a educadora e pesquisadora Márcia Padilha Lotito, coordenadora da
área de inovação educativa da Organização dos Estados Ibero-Americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI).
Segundo
Adriano Canabarro Teixeira, pós-doutor em Educação a Distância pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a falta de capacitação para o
uso da tecnologia nas aulas expõe os problemas na formação universitária para a
docência. “Os cursos de licenciatura parecem desconhecer a tecnologia. A
formação universitária não contempla discussões sobre isso. O professor não
aprende a trabalhar com essa ferramenta.”
Teixeira
também ressalta que, apesar de todas as dificuldades, o professor não deve se
“tornar vítima” nem aceitar esse papel. “Não é possível esperar
pelas condições ideais para trabalhar. A situação ideal não chegará. Não
podemos ignorar o potencial da tecnologia e, por isso, é preciso trabalhar com
o que temos.”
USO INTEGRAL
82% dos
professores que mais usam tecnologia em sala de aula têm computador em casa há
mais de três anos
ATUALIZAÇÃO
66% dos
entrevistados já participaram de cursos de informática
PARTICIPAÇÃO
27% dos
docentes pesquisados (menos de um terço) fizeram cursos para o uso didático da
tecnologia